Na série de vídeos
Zeitgeist, um futuro
altamente tecnológico é proposto como parte
da solução para nossos
problemas atuais. Robôs cuidariam de
áreas rurais,
e parte dos alimentos
poderia ser produzida em
tubos com nutrientes artificiais nos edifícios urbanos, entre
outros cenários mais ou menos factíveis.
Creio, porém, que essa
proposta não é nem a mais
simples, nem a mais viável no longo prazo.
Em
primeiro lugar, evoluímos em contato com a Natureza, e esse contato
é parte integrante de nós ainda hoje, sendo
uma fonte inata de prazer.
Edward Wilson chamou esse sentimento de biofilia,
uma apreciação pela
Natureza em si, por suas formas, cores, cheiros, sons... Uma
evidência disso é que aqueles
que têm dinheiro bastante
costumam
escolher casas com belas
áreas verdes para morar. Também costumam ter piscinas em casa, o
que corrobora a teoria de que evoluímos passando muito tempo na
água (o que explica não
só a nossa perda de pêlos,
mas também
a habilidade dos
recém-nascidos de
nadarem
habilmente,
mesmo depois de cortado o cordão umbilical).
Se
podemos nos afastar da Natureza e morar “felizes” em amontoados
urbanos – sejam favelas ou edifícios com vista para outros
edifícios – se nossos instintos são desprezíveis,
e a cultura pode ser guiada em qualquer direção, por que observamos
comportamento tão previsível entre os
que podem
pagar? Por que os ricos são
tão fieis à biofilia?
Está
claro que o contato com a Natureza nos traz prazer. Por
que então tanta urbanização?
Embora
Adam Smith tenha sido o primeiro grande teórico da economia moderna,
ele parece não ter percebido duas coisas importantes. Uma delas foi
o papel da propriedade da terra, abordado depois por David Ricardo, o
segundo grande teórico da economia moderna. Outra
foi a relação entre economia e ecologia – gêmeas siamesas, noção
recuperada apenas recentemente, e incorporada em áreas “marginais”
da economia moderna, como a Economia Ecológica e a Economia de
Estado Estacionário.
Outro
fator que parece ter afastado os economistas modernos de importantes
noções ambientais foi o medo de outras revoluções
socialistas/comunistas. A
proposta de Marx para a revolução proletária fazia crer que apenas
trabalhadores da indústria – trabalhadores urbanos – teriam
condições educacionais para realizá-la. Esse foi o consenso
internacional por décadas, até que Mao Zedong fizesse uma
revolução na China com
apoio da população rural, vitoriosa em 1949. A
partir daí os capitalistas, temerosos de perder poder
em outras regiões, aceleraram o processo de urbanização,
principalmente no Brasil, a próxima potência rural,
territorial e populacional do
planeta.
Há
quem pense que a urbanização é um processo natural. Que
o campo, por ser coisa do passado, é necessariamente ruim, e que a
tecnologia e os aglomerados urbanos onde reina o individualismo e o
anonimato são o que a espécie humana “sempre desejou”. Há
duas razões para esse pensamento. Uma é que, numa civilização
dominada por dogmas religiosos opressores, o anonimato das grandes
cidades é um alívio após milênios de opressão. Outra é a
ausência de infraestrutura para o bem-estar no campo, peça chave da
estratégia de expulsar o povo da terra, permitindo seu usufruto
exclusivo pelos donos do
capital.
Mas
o que este modelo – êxodo rural, urbanização
e
latifúndio – tem causado?
Do
lado do campo: sem pessoas para cultivar a terra, são necessárias
grandes máquinas, que precisam de grandes espaços para dar retorno
financeiro. O resultado é a
destruição dos biomas nativos que, fossem preservados num mosaico
entre os espaços produtivos, garantiriam o controle climático e de
pragas, a preservação da biodiversidade e da fertilidade natural do
solo, a manutenção das fontes de água e dos
lençóis freáticos.
Evitaríamos assim o uso
excessivo de agrotóxicos, a redução da biodiversidade e
agrobiodiversidade (variedades de sementes), a erosão e a
desertificação – todos problemas gravíssimos que o modelo atual
não consegue resolver.
Do
lado da cidade: reduzindo
o excesso populacional, reduziríamos as moradias insalubres nas
favelas, a desigualdade social, e com ela a violência urbana, o
trânsito caótico, estressante e poluidor (um
dos maiores
causadores
do efeito estufa, ao lado do desmatamento e das indústrias
indispensáveis ao modo de vida urbano),
reduziríamos a
incidência de vários tipos de doenças (relacionadas, por exemplo,
ao estresse e à poluição do ar) e também
a dependência da indústria
farmacêutica (a Natureza oferece inúmeros medicamentos naturais), a
obesidade e a má alimentação (alimentos industrializados cheios de
conservantes, corantes e estabilizantes, além dos mal testados
transgênicos e da poluição por agrotóxicos).
A
vida no campo pode ser
trabalhosa, mas não o é também a vida na cidade? Não gastamos
dinheiro para recuperar a saúde em academias, quando poderíamos
mantê-la com um trabalho não escravo no campo? (Assim como
cachorros correm atrás dos carros para satisfazer seu instinto de
perseguir a caça, também nós precisamos nos exercitar para
satisfazer um instinto que está profundamente enraizado em nosso
DNA.)
Se
podemos ter, no campo, um ambiente limpo e agradável, rico em
biodiversidade, em alimentos diversos e saudáveis, em fármacos
naturais, fibras, óleos, resinas e
perfumes, áreas de lazer e
comunidades vigorosas, mais o
acesso à informação e aos mercados,
além da beleza estética oferecida pela Natureza, o
que nos
impede de alcançar essa sociedade ideal? Apenas
os donos do dinheiro que mantêm hoje uma sociedade escravizada aos
seus interesses?
Creio
que já passou da hora de pensarmos profundamente sobre tudo
isso e tomarmos uma atitude.
Eu sempre pensei dessa forma e meu desejo maior é viver no campo.
ResponderExcluirComo tenho mais passado que futuro, essa decisão teria de ser rápida.
A questão, agora, é convencer minha mulher que se prende a questões familiares para continuar na cidade.