domingo, 30 de julho de 2017

A hipocrisia dos "bons mineiros"

Em Minas Gerais todos dizem "Vai com Deus!", "Fica com Deus!", mas no fundo não acreditam no que estão dizendo. Como sabemos que não acreditam? Porque quase todos têm medo de morrer. São palavras apenas para "mostrar que são bons", e não resultado de uma confiança genuína naquilo que dizem crer. Mas se todos fingem ser bons, como sabem quem é bom e quem não é? Se não estão acostumados a reconhecer uns aos outros sem máscaras, mas apenas sob vernizes "educados"? Se não se importam tanto com o que dizemos, mas sobretudo com a forma como as palavras são ditas? A verdade é que não sabem! Por isso são tão desconfiados quanto os homens e mulheres das cavernas; ou mais, pois no fundo todos sabem que há uma camada extra de falsidade nas relações sociais. É uma terra de hipócritas.

Eu da minha parte uso uma regra prática: quanto mais alguém fala de "Deus", mais eu sei que não é flor que se cheire.

Pesadelo travestido de sonho

"As nações têm seus sonhos, e as recordações de tais sonhos persistem através de gerações e séculos. Alguns deles são sonhos nobres, e outros malignos e ignóbeis. Os sonhos de conquista e de ser mais forte e maior que todos os demais foram sempre sonhos maus, e essas nações têm sempre mais preocupações do que as outras que têm sonhos mais pacíficos. Mas há outros sonhos, sonhos melhores, sonhos de um mundo melhor, sonhos de paz e de nações que vivem em paz umas com as outras, e sonhos de menos crueldade, menos injustiça, menos pobreza, menos sofrimento. Os sonhos maus tendem a destruir os sonhos bons da humanidade, e há animosidade e luta entre os sonhos bons e os sonhos maus. E as gentes lutam por seus sonhos tanto como por suas posses terrenas. E assim os sonhos baixam do mundo das visões ociosas para o mundo da realidade, e convertem-se em força real em nossa vida. Por vagos que sejam, têm os sonhos um modo de ocultar-se e não deixar-nos em paz, até que se hajam traduzido em realidade, como as sementes que germinam debaixo da terra, e que hão de brotar em sua busca de sol. Os sonhos são coisas muito reais."

Lin Yutang. A importância de viver. Tradução de Mário Quintana. Editora Círculo do Livro. Pág. 80.


É assim que são maus os sonhos da "paz imposta à força" há tantos séculos, ainda que pretendam ser sonhos bons. Sua ideia de "paz entre as nações" significa que todas finalmente obedeçam a uma única igreja, que terá então liberdade de mandar para a prisão, forca ou fogueira -- conforme a moda da época -- todos que discordarem de suas teorias porque viram outros valores, valores reais de um amor genuíno e não fingido ou "ensinado", e que tendo os visto jamais aceitarão se calar.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Manual do Pensamento Comum Monoteísta

Primeira regra: negar antes de entender.
Nossa cultura é a melhor do Universo.
Este mundo é temporário.
Não conhecemos outras culturas.
O fim do mundo é bom e necessário.
Devemos levar nossa cultura a quem não perguntou por ela.
Acreditar é melhor que saber.
Para que estudar se não é um dos mandamentos?
A árvore do conhecimento foi a causa do nosso sofrimento.
Não é preciso melhorar, basta se arrepender.
Jesus já pagou por nossos pecados.
Temos incontáveis encarnações para melhorar, pra que a pressa?
Temos compaixão, mas quem vai devolver os bilhões roubados pelos magos das finanças?
Os escravos também têm compaixão, mas ainda são escravos.
Devemos perdoar até os maiores corruptos, ou não seremos perdoados.
Quem vai trazer de volta as espécies extintas quase diariamente?
Se não formos perdoados, para onde vamos?
Quem vai limpar tudo que nossa modernidade polui?
Não é preciso limpar, outra Terra virá.
Deus te ama, mas se não amá-lo de volta sofrerá por toda a eternidade.
É melhor engolir uma contradição do que procurar a verdade.
A verdade vos libertará, mas o que é a verdade?
Verdade virou sinônimo de opinião.
Cada um no seu quadrado.
Mas não era a união que fazia a força?
Mais vale um cordeiro manso a seguir seu pastor que um genuíno primata curioso e forte.
A curiosidade matou o gato.
Os últimos serão os primeiros.
Mas quem tem fome tem pressa.
Somos naturalmente maus, por isso precisamos ser corrigidos, vigiados e punidos.
A Natureza é sábia mas não sabe o que faz.
Deus é perfeito, mas nos criou falhos.
Estudar a Natureza nos afasta da tirania, por isso não é bom para os tiranos.
Animais sociais preferem o bem, mas não somos animais.
Somos à imagem e semelhança do livro que nos governa.
Não conhecemos outros livros e nem queremos conhecer.
O que não está do nosso lado, está do lado do mal.
Estamos do lado do bem, ou acreditamos estar.
A fé é uma mentira que favorece a tirania.
Mas lavamos nossas mãos, pois temos uma fé prepotente e inabalável de que não podemos estar errados.
Amém?