sábado, 2 de novembro de 2019

domingo, 8 de setembro de 2019

"ações corretas devem estar sincronizadas com as leis naturais" no Yi Jing (I-Ching)

"Quando as influências do céu e da terra se combinam, todas as coisas são possíveis*. Contudo, para alcançar êxito, essa infinidade de perspectivas deve ser tratada de maneira metódica. Para promover o completo desenvolvimento, as ações corretas devem estar sincronizadas com as leis naturais."

* "tudo existe" parece dizer a biologia, que descobre exceções às "regras da vida" quase diariamente.

Yi Jing/I-Ching 11 泰 tài
䷊ terra sobre céu

泰 tài s. harmonia, tranquilidade; adj. seguro, pacífico

"quando o Dao não predomina no reino, fique longe" no Yi Jing (I-Ching)

"Quando as infuências do céu e da terra se separam, o progresso não é possível. Mesmo uma pessoa de bem não consegue vencer, e, por isso, deve afastar-se da vida pública e trabalhar silenciosamente, em segundo plano."

Yi Jing/I-Ching 12 否 pǐ
䷋ céu sobre terra

 否 pǐ s. estagnação, obstrução; adj. obstruído, estagnado, mau

Céu e Inferno, por Borges

"O que é o céu se não um suborno, e o que é o inferno se não uma ameaça?" - Jorge Luís Borges

Sabedoria, por Confúcio

“A sabedoria começa quando chamamos as coisas pelo nome certo.” – Confúcio, Analectos, XIII.3

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Assistir TV para ser feito de tolo? No Brasil é assim.

Na verdade, o mercado capitalista, aqui e em qualquer lugar, sempre foi uma forma de “corrupção organizada”, começando com o controle dos mais ricos acerca da própria definição de crime: criminoso passa a ser o funcionário do Estado ou o batedor de carteiras pobre, enquanto o especulador de Wall Street – a matriz da avenida Paulista – que frauda balanços de empresas e países e arruína o acionista minoritário, embolsa, hoje mais que antes da crise, bônus milionários. Enquanto os primeiros vão para a cadeia, o segundo, que às vezes arrasa a economia de países inteiros, ganha foto na capa da revista The Economist como financista do ano. Quem é que ganha, na verdade, com a corrupção tornada legal do mercado e celebrada como mérito? É isso que o cidadão feito de tolo não vê.

E ainda, com esse dinheiro “extra” dos tolos, compram partidos políticos que defendem seus privilégios e jornais e redes de TVs que repetem todo dia que o problema nacional é a corrupção apenas no Estado. A lorota do mercado “virtuoso” entre nós só pode ser compreendida pelo sequesto dos meios de comunicação em favor dos interesses do 1% mais rico da população. Tão importante quanto o direito ao voto em uma democracia é o direito à informação plural, onde o contraditório e a notícia percebida e discutida por diversas perspectivas e aos olhos dos interesses mais diversos têm o lugar central. Sem uma mídia plural não existe democracia digna deste nome, nem processo coletivo de aprendizado durável. A manipulação grotesca, por exemplo, da TV brasileira – talvez só comparável à das ditaduras – nem sequer é percebida pelo público. Como sempre foi assim, não existe padrão de comparação crítica. Nesse contexto, a “opinião pública” tende a equivaler à “opinião que se publica”.

Jessé Souza. A Tolice da Inteligência Brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São Paulo: LeYa, 2015. Trechos entre as páginas 247 e 249.

terça-feira, 18 de junho de 2019

As mentiras que a Direita conta...

Chega a ser engraçado a Direita acusar a Esquerda de “não trabalhar”, de “viver do dinheiro/trabalho dos outros”. Ora, no Brasil, durante 2/3 da nossa história, não eram esquerdistas que enriqueciam com o trabalho escravo! Muito pelo contrário, foram os antepassados desses senhores brancos, religiosos e moralistas que enriqueceram dando chicotadas em escravos desobedientes e perseguindo com cachorros os escravos fujões. Depois, com o dinheiro acumulado, os filhos que nunca precisaram trabalhar podiam estudar nas melhores universidades do mundo, garantindo assim uma carreira promissora, muitas vezes no próprio serviço público que acusam de “teta dos esquerdistas”, quando não na empresa do papai, ganhando o suficiente para que os próprios filhos também não precisassem trabalhar e pudessem estudar nas melhores universidades, e assim por diante, fechando seu “círculo virtuoso”. Além disso, é lindo poupar quando sobra dinheiro. Esses direitistas nunca viram a pobreza de perto, para dizerem que o pobre não poupa por “falta de vontade”, quando mal consegue pagar as contas.

Outra que quase tem graça é a falsa dicotomia direitista: de um lado, o Estado corrupto; de outro, o Mercado virtuoso. Na verdade, o Mercado, sem a regulamentação de um Estado que defenda os Direitos Humanos mais fundamentais, é tão ou mais corrupto que qualquer Estado. Compram governantes, parlamentares, juízes e jornalistas. Roubam descaradamente, e na maior parte das vezes, de forma impune. Nos anos 1980, o chamado escândalo de poupança e empréstimo (savings and loan crisis) nos EUA causou a prisão de 839 pessoas por “crimes do colarinho branco”. Estava apenas começando a era Reagan/Thatcher – o maior avanço neoliberal da história recente. Suas consequências? Por um lado, permitiu ao FMI “recomendar” uma cartilha de privatizações, desregulamentações e diminuição geral do papel do governo na economia, como condição para empréstimos “generosos” às necessitadas América Latina e África (roubadas durante séculos por exploradores gananciosos, inescrupulosos e, claro, direitistas, dominantes até hoje nas elites desses continentes). A consequência foi o aumento da miséria nos dois continentes em poucos anos. Por outro lado, a desregulamentação do próprio Atlântico Norte (EUA e Europa) levaria à crise recorrente da Zona do Euro e às fraudes no sistema financeiro que causaram a crise estadunidense de 2008 onde, apesar do rombo muito maior que no escândalo dos anos 1980, ninguém foi punido. É este o “Mercado virtuoso” que os direitistas descrevem em seus contos de fadas. E querem ainda menos regulações!

No Brasil, não bastou à Direita ter enriquecido com o trabalho escravo por 350 anos, querem manter o trabalho escravo ainda hoje. As denúncias de trabalho escravo são uma constante, principalmente no campo. Parlamentares de Direita, em sua maioria ruralistas, vêm recentemente tentando flexibilizar as definições de trabalho escravo, visando dificultar o seu combate. Chegaram até a propor, com a Reforma Trabalhista (que não aqueceu a economia como prometido), que mulheres grávidas e lactantes pudessem trabalhar em locais insalubres. É inacreditável que pessoas sensatas precisem gastar tempo, energia e dinheiro público para barrar esse tipo de abusos.

Na área ambiental, os mesmos parlamentares financiados pelo agronegócio continuam lutando contra a conservação ambiental. Não bastou sua vitória na mudança do Código Florestal em 2012, querem mais desmatamento, mais perdão a multas por crimes ambientais, menos obrigação de reflorestamento. O governo Bolsonaro já começou o ano reduzindo a fiscalização ambiental, travestindo a farra dos desmatadores de “combate ao ativismo ambiental”. Seguem sua própria ideologia – extremamente destrutiva para o país campeão mundial de biodiversidade – fingindo que odeiam ideologias. Isso sem falar nos 166 agrotóxicos liberados em apenas 4 meses, 28% dos quais são proibidos na União Europeia pelos comprovados danos à saúde (mas essa turma odeia ciência, e não é à toa: ela os desmente com frequência), e 44% são considerados “altamente tóxicos” ou “extremamente tóxicos” segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa.

Para piorar, esse tipo de gente está sempre se apoiando na religião. Levam a Bíblia embaixo do braço, recitam versículos “sagrados” e, claro, atacam as faculdades de filosofia e ciências humanas. É óbvio que não querem um povo que pense, e sim um povo que acredite. Justamente porque saber é melhor que acreditar, e um povo que não sabe, que não pensa, que apenas acredita, é o tipo de massa de manobra que todo corrupto sempre quis ter. Como nos séculos em que a Igreja reinou, rezando missas em latim para o povo não entender, garantindo assim sua dominação absoluta, sem críticas e opiniões contrárias, à imagem dos programas “de debates” na TV atual, também dominada pela Direita.

A conclusão é que a Direita “não precisa” de dinheiro, porque sempre teve. E teve às custas da exploração do trabalho alheio, da escravidão, do trabalho em condições degradantes para mulheres grávidas e lactantes, da degradação ambiental, do envenenamento do solo, das águas, da nossa comida. E mesmo agora, que já têm mais dinheiro que o resto da sociedade, continuam forçando governos a aprovarem leis injustas e danosas à sociedade como um todo, para que mantenham a dianteira, e na maioria dos casos, a ampliem. Pior do que a Direita, só o pobre que, à maneira do negro capitão do mato, trai a própria classe repetindo sem pensar as mentiras dos “amigos” ricos, sempre à espera de migalhas de reconhecimento. E ainda chamam o Bolsa Família de esmola...

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A Direita rica precisa criar narrativas mentirosas para manter os próprios privilégios. De que outra maneira sobreviveria numa democracia onde a maioria é pobre e explorada por ela?

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PS: Este texto foi escrito como uma resposta a um texto direitista que recebi. Não sei nem se vale a pena dar audiência para tanta falsidade...

quinta-feira, 21 de março de 2019

Como políticas neoliberais do FMI e Banco Mundial aumentaram a pobreza na América Latina e África nos anos 1980

As políticas de ajuste estrutural conhecidas como “Consenso de Washington” incluíram políticas como privatização, desregulamentação e uma diminuição geral no papel do governo na economia. Essas eram políticas exigidas pelo FMI e pelo Banco Mundial em troca de empréstimos e acordos de renegociação da dívida para a maioria dos países da África e da América Latina durante os anos 80. Como parte das medidas de austeridade, os países também reduziram o dinheiro para gastos sociais em áreas como saúde, educação e assistência social (Huber, 2005, p. 79). No entanto, durante a década de 1980, a pobreza aumentou dramaticamente na África e na América Latina, ao passo que, antes desse período, a pobreza vinha diminuindo gradualmente nessas regiões. De 1985 a 1989, o número de pessoas em situação de pobreza na África subsaariana subiu de 191 milhões [42,9% do total de 445 milhões] para 228 milhões [45,8% do total de 498,1 milhões]; na América Latina e no Caribe, o número de pessoas em situação de pobreza aumentou de 91 milhões [25% do total de 363,5 milhões] em 1980 para 133 milhões [30,4% do total de 436,9 milhões] em 1989 (Stewart, 1995, p. 1). Assim, políticas de ajuste estrutural e austeridade foram consideradas pelo menos parcialmente responsáveis pelo aumento da pobreza e da desigualdade nessas regiões no final da década de 1980 (Stewart, 1995; Huber, 2005, pp. 79-81; Blackmon, 2009).

Referências

Blackmon, P. (2009). Factoring Gender into Economic Development: Changing the Policies of the International Monetary Fund and the World Bank. Women’s Studies 38(2): 213–237.

Huber, E. (2005). Globalization and Social Policy Developments in Latin America. In Miguel Glatzer and Dietrich Rueschemeyer, eds. Globalization and the Future of the Welfare State. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press.

Stewart, F. (1995). Adjustment and Poverty. London: Routledge.

Adaptado de

Pamela Blackmon (2015) BEYOND COINCIDENCE: How neoliberal policy initiatives in the IMF and World Bank affected U.S. poverty levels. 1° Capítulo de Stephen Nathan Haymes, María Vidal de Haymes, and Reuben Jonathan Miller (Eds.) The Routledge Handbook of Poverty in the United States, página 12.

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