sábado, 30 de outubro de 2021

A biologia, a Bíblia e a infantaria

Um dos problemas da religião é fazer multidões pensarem que a crise ambiental não é TÃO importante. Na pior das hipóteses, “Jesus voltará” e nos levará para uma “nova Terra”. Cuidar do planeta nunca foi PRIORIDADE pra essa gente.

Sabe o que é PRIORIDADE? É quando só temos este planeta, e nada mais, por isso o mais importante é cuidarmos bem dele. Mais importante do que se preocupar se o vizinho está dando o c*. Até melhor se estiver. Na biologia chamamos de “controle populacional dependente da densidade”.

O que a Bíblia ensina sobre “controle populacional dependente da densidade”? Obviamente, nada. O “Senhor dos Exércitos” controlava a densidade fazendo guerras, por isso apedrejavam gays. Precisavam do máximo de crianças novas pra incrementar a infantaria.

domingo, 18 de julho de 2021

De volta à Idade Média

Já há algumas décadas os tempos se parecem com a “Idade Média”. Falava-se então de mistérios impenetráveis: a Santíssima Trindade, a Transubstanciação de Cristo, o Pecado, a Salvação, a Vida Eterna… Não se podia negá-los, não se podia duvidar deles. A mera sugestão de dúvida, inquietação ou protesto tinha um resultado claro e infalível: a Santa Fogueira da Inquisição.

As pessoas comuns, que já não conseguiam acompanhar as missas em latim, ainda assim deviam ouvir alguns desses conceitos em algum lugar, na sua própria língua. E, não podendo nem assim compreendê-los, deviam fingir não apenas que os compreendiam, mas também que acreditavam neles do fundo da alma. No fundo da mente, porém, tinham todo o direito de duvidar, de rir e ridicularizar aquelas tolices. Poucos, porém, sustentariam essa rebeldia secreta, por medo de serem pegos falando no sono, ou rindo quando deveriam se mostrar sérios, etc. O auto-engano, devidamente treinado e domesticado, transformou-se a cada geração na “verdade revelada, auto-evidente e absoluta”, essa fonte de hipocrisia que nos vem assolando há milênios.

É bem verdade que a história nos trouxe depois Galileu, Kepler, Descartes, Newton e tantos outros, e esses tempos de sombrias imposturas ficou para trás. Ou melhor, parcialmente para trás, pois as imposturas, como as sombras, não desaparecem tão fácil: posto o Sol, nasce a Lua; oculta a Lua, cintilam estrelas; nublado o céu, voam pirilampos…

Mutatis mutandis, uma nova moda se impôs. Depois do Iluminismo, do Século das Luzes, da Idade da Razão, da Era das Revoluções, houve motivos para se declarar que tudo isso era já muito velho, e se buscavam coisas novas. Uma nova leva de “intelectuais” brilhou no horizonte, com novos métodos, novos estilos, “novas ideias” ou, ao menos, novas roupagens. Não apenas rejeitavam o velho, mas escreviam de tal forma, com ideias tão atraentes, que só podiam mesmo ser muito inteligentes. “Aí estão verdadeiros intelectuais”, apontava-se. Mas sua prosa, que por hora parecia clara e verdadeira, em outros momentos se mostrava imprecisa, vazia ou, quem sabe, profunda demais? Prolixa, com certeza. Inconclusiva, geralmente. Mas não parecia dizer aquilo que se queria ouvir? Em pouco tempo, já ocupavam os espaços de poder: editoras, revistas especializadas, livrarias, universidades…

Em pouco tempo, eram O assunto. E como a Roupa Nova do Rei, todos concordavam em repetir que era de fato muito bela, a mais esplendorosa trama, etc. E no fundo não entendiam o que estava sendo dito. Mas parecia inteligente, e quem negasse tamanha inteligência, quem ousasse admitir que não havia entendido, que não via sentido, que chegava mesmo a achar aquilo ridículo, pomposo, fútil… seria relegado clara e infalivelmente à fogueira dos novos tempos: o ostracismo acadêmico, a perda do Currículo, os trabalhos forçados manuais (essa forma degradante de existência, no imaginário dos proletários do saber).

E assim, entre frases nebulosas e ataques explícitos à racionalidade—interrompida volta e meia por essas eras de incertezas e sombras—chegamos no mundo de hoje, onde a Terra Plana deixou de ser uma piada inofensiva, onde o orçamento do Ministério da Ciência é reduzido a cada ano, onde a recusa em vacinar-se virou artigo de honra e cadafalso para o auto-genocídio de um povo. Tudo porque aos especialistas falta a coragem de dizer, em alto e bom som, que o Rei está nu.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Fio contra a memória curta

A “grande” mídia brasileira fez o possível para derrubar o PT, mesmo recebendo bastante dinheiro de publicidade do governo. Afinal, sua suposta idoneidade esconde (mal e porcamente) o fato de serem capachos do capital e do imperialismo.

Aqui tem o fio de um historiador que nos ajuda a lembrar algumas “pérolas” das últimas décadas: https://twitter.com/louverture1984/status/1342823591952474114.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Na carrocracia, quanto vale a vida de um passageiro de ônibus?

Eu ia de ônibus pra manifestação contra o desgoverno no último sábado, 19 de junho de 2021. Na parada, todos os veículos que passavam tinham as janelas vedadas: ar-condicionado. Lá dentro, rostos tristes, de máscara, ocupavam os assentos ou iam em pé.

Os ônibus não estão tão cheios, pensei, afinal é sábado. Mas nos dias de semana, os ônibus continuam tão lotados quanto antes da pandemia, e ainda assim seus passageiros são obrigados a respirar o mesmo ar viciado, substituído (?) apenas por um parco sistema de refrigeração – cujo nome já diz: serve para resfriar, muito mais que para ventilar.

Existe algum estudo que mostre a eficácia do ar-condicionado dos ônibus em fazer circular o ar, prevenindo o contágio de uma doença com alta letalidade como a Covid? Ou estamos apenas “tendo fé” na salvação por “graça divina”, como prefere a maioria dos eleitores do energúmeno que ocupa a presidência?

Quanto custaria às empresas, donas das frotas de ônibus, substituir os vidros vedados por vidros que se abrem, caso isso seja necessário para circular o ar o suficiente para reduzir o número de mortes? E qual a porcentagem desse custo em relação ao seu lucro?

Quanto vale, afinal, a vida dos passageiros de ônibus, dentro de um sistema que podemos muito bem chamar de carrocracia?

Depois de um ano e três meses de pandemia, depois de meio milhão de mortos em todo o país, ainda não vi ninguém fazer essas perguntas.

PS: acabei indo de Uber.

segunda-feira, 29 de março de 2021

O jardim improvável

Eu gosto de plantas, mas não sou um bom jardineiro. Se fosse, encheria minha casa de plantas: pelo chão, pelas paredes, penduradas no teto… Mas cada planta tem suas exigências. Umas pedem muita água, outras se afogariam com metade. Umas gostam de muita luz, outras preferem sombra. Acertar todas essas preferências para várias espécies não é nada fácil. Por isso me espantei ao entrar num casarão abandonado há décadas. Havia plantas vigorosas crescendo em cada muro, em cada parede, em casa fresta, por todo o chão, sobre (e sob) o que restou do telhado… É óbvio, portanto, que ali deve morar um grande jardineiro.

Igualmente, a beleza do mundo natural implica a existência de deuses criadores…

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

EUA e Europa: as nações “desenvolvidas”

Por que uso “países desenvolvidos” entre aspas?

Esses países se desenvolveram em técnica, mas perderam outras áreas do desenvolvimento humano, como a moral, a empatia, a curiosidade aberta e transparente comum à humanidade em seu estado natural, e visível ainda na maioria dos povos espalhados pelo planeta, especialmente nos locais mais remotos e afastados das grandes metrópoles.

Esses povos distantes geralmente não precisam disfarçar, omitir, tergiversar. Pelo contrário, falam claramente, vão direto ao ponto, sem rodeios. Não precisam pisar em ovos onde quer que vão. Suas leis são derivadas de seu próprio desenvolvimento, e não impostas por colonizadores.

Assim, chamar EUA e Europa de desenvolvidos, sem aspas, seria dar valor apenas à área em que se destacaram, ignorando as demais, e legando os povos sábios e virtuosos da Amazônia, da Polinésia, da África... à situação de ignorantes, subdesenvolvidos, imorais, etc.

O que dá valor à vida não é o dinheiro, mas o tempo passado com qualidade na companhia de quem amamos, num ambiente saudável em todos os aspectos: ecológico, econômico, espiritual... E se um povo só tem tudo isso com muito dinheiro — dinheiro roubado na exploração de continentes inteiros — então estamos falando de um crime, não de um modelo.

O “desenvolvimento” ocidental é uma inversão de valores a que chamam progresso, mas cujo verdadeiro nome é disgresso.

A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e ARTE

Se a tal Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pelo "mundo livre" e "desenvolvido" em 1948, coloca o direito a acessarmos a arte e a cultura do nosso tempo ANTES do direito à propriedade das obras culturais e de arte (artigo 27), então por que diabos ainda devemos pagar para — em casa — assistir filmes ou ouvir música, por exemplo?

Temos ou não o "direito de fruir as artes"?

Cantores ganham dinheiro fazendo shows. Filmes ganham dinheiro pela experiência cinemática. O resto é ganância.

Torrent e P2P neles!

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Um paralelo entre a “autoridade científica” e o Partido Comunista Chinês

O senso comum ocidental é dominado por uma mídia capitalista. Uma mídia tão maniqueísta quanto a religião que sustenta o capitalismo. Isto é, divide o mundo por uma linha sólida, precisa e inflexível: do lado de cá os “bons”, do lado de lá os “maus”. É assim que a China é apenas “uma ditadura sanguinária”, enquanto os EUA são “os bondosos defensores da liberdade”.

Qualquer ser pensante sabe que a realidade é sempre mais complicada que isso: apresenta nuances, graus, detalhes. Godfree Roberts escreve sobre a democracia na China, mostrando que ela não acontece na eleição dos líderes máximos do Estado pela população como um todo, mas em outros aspectos da vida em sociedade. No modelo ocidental acontece o oposto: a população como um todo escolhe os líderes máximos do Estado, mas não outros aspectos da vida em sociedade (plebiscitos são raros, e não necessariamente respeitados).

Qual modelo funciona melhor? Pela decadência material e espiritual dos EUA e do Ocidente em geral [1] [2] [3] [4], e pela ascenção chinesa em vários aspectos [5] [6] [7] [8], a resposta não parece difícil. Quando a grande mídia é dominada pelo capital, a “opinião pública” se torna refém dos donos do capital. Assim, a grande maioria da população não tem informações suficientes para entender a conjuntura nacional, o que geralmente se traduz na eleição de líderes demagogos, cheios de falsas promessas. Ao mesmo tempo, o povo conhece bem a sua realidade, os problemas do seu próprio cotidiano, do seu bairro, do seu trabalho, do transporte e comércio locais, e assim por diante. Pode, portanto, canalizar esse conhecimento de forma progressiva (assembleias de bairros, municípios, estados, regiões…) até um poder central preparado o bastante para ligar este conhecimento a uma estratégia de ação. Para que funcione, o poder central não pode estar ocupado por populistas carismáticos e eloquentes. Como ensinava Confúcio: “É raro, de fato, que um homem com palavras ardilosas e um rosto bajulador seja benevolente.”

Em resumo: um conselho de pessoas bem instruídas, preparadas para interpretar os anseios populares e transformá-los em políticas públicas, parece ser a forma mais eficaz de governo no mundo atual.

Quando analisamos o conhecimento filosófico-científico, vemos um paralelo. Filósofos e cientistas são pessoas que dedicam suas vidas a entender o mundo onde vivem. Por mais que seu conhecimento não seja perfeito, tendem a acertar mais sobre o assunto a que se dedicam que as pessoas sem contato com aquele tema. Isso não inclui, obviamente, assuntos comuns há milênios entre todos os povos do mundo, como a educação infantil, o trabalho da terra, a prática sexual. Mas inclui a maioria dos assuntos que compõem as sociedades modernas: equipamentos eletrônicos, reatores nucleares, telecomunicações, construção de estradas e ferrovias, motores elétricos, pílulas anticoncepcionais, vacinas.

Outra característica comum ao conhecimento filosófico-científico é sua pluralidade. Apesar das chamadas sensacionalistas comuns na mídia, como “o que a ciência fala sobre X”, a “ciência” não fala nada, quem fala são cientistas. E poucos assuntos em ciência encontram um consenso completo entre cientistas do mundo inteiro. Assim, quem dá voz a alguns cientistas, e não a outros, costumam ser os veículos de mídia, e não a ciência em si.

Onde quero chegar com isso? Nessa visão hoje comum, senão dominante, de que deveríamos “democratizar” completamente a produção de conhecimento, como se a opinião de todas as pessoas, sobre qualquer assunto, devesse ter o mesmo peso. Os cientistas devem, sim, aprender com o povo. A população deve estar ciente, claro, que a ciência também erra. As discussões entre os cientistas devem receber atenção suficiente, e não apenas algumas vozes escolhidas a dedo pelos veículos formadores de opinião. Mas num assunto vitalmente importante, e tecnicamente complexo, como são as vacinas e a vacinação – especialmente durante uma pandemia global – equiparar opiniões de leigos ao “consenso” da maioria da comunidade científica, é como dar ao povo informações enviesadas e esperar que escolham pelo voto os melhores líderes para um país. É colocar no poder um governante “com jeito de povo”, mas alinhado apenas com os interesses dos oligopólios corporativos.

Podemos resumir isso num dito de Zhuangzi: “Se todo mundo fosse seu próprio mestre, quem ficaria sem um mestre?”

domingo, 10 de janeiro de 2021

Nietzsche e a tolice do Ocidente

Nietzsche, Anticristão, 49:

No início da Bíblia está toda a psicologia do padre. — O padre conhece apenas um grande perigo: a ciência — o conceito sadio de causa e efeito. Mas a ciência apenas floresce totalmente sob condições favoráveis — um homem precisa de tempo, precisa possuir um intelecto transbordante para poder “conhecer”… “Logo, é preciso tornar o homem infeliz” — essa foi, em todas as épocas, a lógica do padre. — É fácil ver o que, a partir dessa lógica, surgiu no mundo: — o “pecado”… O conceito de culpa e punição, toda a “ordem moral do mundo” foram direcionados contra a ciência — contra a emancipação do homem do jugo sacerdotal… O homem não deve olhar para seu exterior; deve olhar apenas para o interior. Não deve olhar as coisas com acuidade e prudência, não deve aprender sobre elas; não deve olhar para nada; deve apenas sofrer… E sofrer tanto que sempre esteja precisando de um padre. — Fora os médicos!

Aí o Ocidente leva milênios pra “se livrar” dos padres. Passam nem 100 anos, vem um bando de padre fantasiado de “cientista social” e passa a perna no Ocidente de novo! Pense num Ocidente tolo!