“As causas desse
padrão ininterrupto de conflitos não estão em fenômenos
transitórios como o fervor cristão do século XII ou o
fundamentalismo muçulmano do século XX. Elas decorrem da natureza
dessas duas religiões e das civilizações nelas baseadas. Os
conflitos eram, por um lado, fruto das diferenças, especialmente da
concepção muçulmana do Islamismo como um estilo de vida que
transcendia e unia religião e política versus
a concepção cristã ocidental da separação dos reinos de Deus e
de César. Entretanto, os
conflitos também se originavam de suas similitudes. Ambas são
religiões monoteístas, que, ao contrário das politeístas, não
podem assimilar com facilidade outras divindades e que veem o mundo
em termos dualistas, de nós-e-eles. Ambas são universalistas,
afirmando serem a única fé
verdadeira à qual devem aderir todos os seres humanos. Ambas são
religiões missionárias, acreditando que seus seguidores têm a
obrigação de converter os não-crentes a essa única fé
verdadeira. Desde suas origens, o Islamismo se expandiu pela
conquista e, quando surgiram oportunidades, o mesmo se deu com o
Cristianismo. As concepções paralelas de “jihad” e de “cruzada”
não só se parecem como distinguem esses dois credos de outras
grandes religiões do mundo. O Islamismo e o Cristianismo, junto com
o Judaísmo, têm uma visão teleológica da História, em contraste
com a visão cíclica ou estática que prevalece nas outras
civilizações.”
Samuel P. Huntington, O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial. Ed. Objetiva, 1996. Pg. 264
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