terça-feira, 18 de junho de 2019

As mentiras que a Direita conta...

Chega a ser engraçado a Direita acusar a Esquerda de “não trabalhar”, de “viver do dinheiro/trabalho dos outros”. Ora, no Brasil, durante 2/3 da nossa história, não eram esquerdistas que enriqueciam com o trabalho escravo! Muito pelo contrário, foram os antepassados desses senhores brancos, religiosos e moralistas que enriqueceram dando chicotadas em escravos desobedientes e perseguindo com cachorros os escravos fujões. Depois, com o dinheiro acumulado, os filhos que nunca precisaram trabalhar podiam estudar nas melhores universidades do mundo, garantindo assim uma carreira promissora, muitas vezes no próprio serviço público que acusam de “teta dos esquerdistas”, quando não na empresa do papai, ganhando o suficiente para que os próprios filhos também não precisassem trabalhar e pudessem estudar nas melhores universidades, e assim por diante, fechando seu “círculo virtuoso”. Além disso, é lindo poupar quando sobra dinheiro. Esses direitistas nunca viram a pobreza de perto, para dizerem que o pobre não poupa por “falta de vontade”, quando mal consegue pagar as contas.

Outra que quase tem graça é a falsa dicotomia direitista: de um lado, o Estado corrupto; de outro, o Mercado virtuoso. Na verdade, o Mercado, sem a regulamentação de um Estado que defenda os Direitos Humanos mais fundamentais, é tão ou mais corrupto que qualquer Estado. Compram governantes, parlamentares, juízes e jornalistas. Roubam descaradamente, e na maior parte das vezes, de forma impune. Nos anos 1980, o chamado escândalo de poupança e empréstimo (savings and loan crisis) nos EUA causou a prisão de 839 pessoas por “crimes do colarinho branco”. Estava apenas começando a era Reagan/Thatcher – o maior avanço neoliberal da história recente. Suas consequências? Por um lado, permitiu ao FMI “recomendar” uma cartilha de privatizações, desregulamentações e diminuição geral do papel do governo na economia, como condição para empréstimos “generosos” às necessitadas América Latina e África (roubadas durante séculos por exploradores gananciosos, inescrupulosos e, claro, direitistas, dominantes até hoje nas elites desses continentes). A consequência foi o aumento da miséria nos dois continentes em poucos anos. Por outro lado, a desregulamentação do próprio Atlântico Norte (EUA e Europa) levaria à crise recorrente da Zona do Euro e às fraudes no sistema financeiro que causaram a crise estadunidense de 2008 onde, apesar do rombo muito maior que no escândalo dos anos 1980, ninguém foi punido. É este o “Mercado virtuoso” que os direitistas descrevem em seus contos de fadas. E querem ainda menos regulações!

No Brasil, não bastou à Direita ter enriquecido com o trabalho escravo por 350 anos, querem manter o trabalho escravo ainda hoje. As denúncias de trabalho escravo são uma constante, principalmente no campo. Parlamentares de Direita, em sua maioria ruralistas, vêm recentemente tentando flexibilizar as definições de trabalho escravo, visando dificultar o seu combate. Chegaram até a propor, com a Reforma Trabalhista (que não aqueceu a economia como prometido), que mulheres grávidas e lactantes pudessem trabalhar em locais insalubres. É inacreditável que pessoas sensatas precisem gastar tempo, energia e dinheiro público para barrar esse tipo de abusos.

Na área ambiental, os mesmos parlamentares financiados pelo agronegócio continuam lutando contra a conservação ambiental. Não bastou sua vitória na mudança do Código Florestal em 2012, querem mais desmatamento, mais perdão a multas por crimes ambientais, menos obrigação de reflorestamento. O governo Bolsonaro já começou o ano reduzindo a fiscalização ambiental, travestindo a farra dos desmatadores de “combate ao ativismo ambiental”. Seguem sua própria ideologia – extremamente destrutiva para o país campeão mundial de biodiversidade – fingindo que odeiam ideologias. Isso sem falar nos 166 agrotóxicos liberados em apenas 4 meses, 28% dos quais são proibidos na União Europeia pelos comprovados danos à saúde (mas essa turma odeia ciência, e não é à toa: ela os desmente com frequência), e 44% são considerados “altamente tóxicos” ou “extremamente tóxicos” segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa.

Para piorar, esse tipo de gente está sempre se apoiando na religião. Levam a Bíblia embaixo do braço, recitam versículos “sagrados” e, claro, atacam as faculdades de filosofia e ciências humanas. É óbvio que não querem um povo que pense, e sim um povo que acredite. Justamente porque saber é melhor que acreditar, e um povo que não sabe, que não pensa, que apenas acredita, é o tipo de massa de manobra que todo corrupto sempre quis ter. Como nos séculos em que a Igreja reinou, rezando missas em latim para o povo não entender, garantindo assim sua dominação absoluta, sem críticas e opiniões contrárias, à imagem dos programas “de debates” na TV atual, também dominada pela Direita.

A conclusão é que a Direita “não precisa” de dinheiro, porque sempre teve. E teve às custas da exploração do trabalho alheio, da escravidão, do trabalho em condições degradantes para mulheres grávidas e lactantes, da degradação ambiental, do envenenamento do solo, das águas, da nossa comida. E mesmo agora, que já têm mais dinheiro que o resto da sociedade, continuam forçando governos a aprovarem leis injustas e danosas à sociedade como um todo, para que mantenham a dianteira, e na maioria dos casos, a ampliem. Pior do que a Direita, só o pobre que, à maneira do negro capitão do mato, trai a própria classe repetindo sem pensar as mentiras dos “amigos” ricos, sempre à espera de migalhas de reconhecimento. E ainda chamam o Bolsa Família de esmola...

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A Direita rica precisa criar narrativas mentirosas para manter os próprios privilégios. De que outra maneira sobreviveria numa democracia onde a maioria é pobre e explorada por ela?

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PS: Este texto foi escrito como uma resposta a um texto direitista que recebi. Não sei nem se vale a pena dar audiência para tanta falsidade...

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