sexta-feira, 28 de abril de 2017

Confúcio e Laozi


Confúcio visitou Laozi, e falou sobre a caridade e o dever para com o próximo.

Disse Laozi: “O farelo da peneira cega os olhos de um homem, de modo que ele não pode ver em torno. Os mosquitos mantêm uma pessoa acordada a noite inteira com as suas picadas. E do mesmo modo, essa conversa de caridade e dever para com o próximo quase me leva à loucura. Senhor! Esforça-te para conservar o mundo em sua simplicidade original. E do mesmo modo que o vento sopra onde lhe apraz, deixa a virtude ela própria se firmar. Para que desperdiçar tanta energia, procurando um fugitivo com um grande tambor?

“O cisne branco é branco sem se banhar diariamente. O corvo é negro sem se pintar diariamente. A simplicidade original do branco e do negro está além dos limites da argumentação. A perspectiva da fama e da reputação não é digna de ampliação. Quando a lagoa seca e os peixes são deixados na terra, umedecê-los com um sopro ou molhá-los com cuspe não se compara com deixá-los em seus rios e lagos nativos.”

Regressando de sua visita a Laozi, Confúcio se manteve em silêncio durante três dias. Um discípulo perguntou-lhe: “Mestre, quando viste Laozi, como o advertiste?”

“Vi um dragão”, respondeu Confúcio. “Um dragão que pela convergência mostrava um corpo, pela radiação tornava-se cor e correndo para as nuvens do céu alimentava os dois princípios da criação. Fiquei boquiaberto. Como pensas, então, que eu fosse advertir Laozi?”


Lao Tze e Chuang Tze – A Essência do Taoísmo
Trad. David Jardim Jr.
Ediouro 1985

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