Confúcio visitou
Laozi, e falou sobre a caridade e o dever para com o próximo.
Disse Laozi: “O
farelo da peneira cega os olhos de um homem, de modo que ele não
pode ver em torno. Os mosquitos mantêm uma pessoa acordada a noite
inteira com as suas picadas. E do mesmo modo, essa conversa de
caridade e dever para com o próximo quase me leva à loucura.
Senhor! Esforça-te para conservar o mundo em sua simplicidade
original. E do mesmo modo que o vento sopra onde lhe apraz, deixa a
virtude ela própria se firmar. Para que desperdiçar tanta energia,
procurando um fugitivo com um grande tambor?
“O cisne branco é
branco sem se banhar diariamente. O corvo é negro sem se pintar
diariamente. A simplicidade original do branco e do negro está além
dos limites da argumentação. A perspectiva da fama e da reputação
não é digna de ampliação. Quando a lagoa seca e os peixes são
deixados na terra, umedecê-los com um sopro ou molhá-los com cuspe
não se compara com deixá-los em seus rios e lagos nativos.”
Regressando de sua
visita a Laozi, Confúcio se manteve em silêncio durante três dias.
Um discípulo perguntou-lhe: “Mestre, quando viste Laozi, como o
advertiste?”
“Vi um dragão”,
respondeu Confúcio. “Um dragão que pela convergência mostrava um
corpo, pela radiação tornava-se cor e correndo para as nuvens do
céu alimentava os dois princípios da criação. Fiquei boquiaberto.
Como pensas, então, que eu fosse advertir Laozi?”
Lao Tze e Chuang Tze
– A Essência do Taoísmo
Trad. David Jardim
Jr.
Ediouro 1985