Eu ia de ônibus pra manifestação contra o desgoverno no último sábado, 19 de junho de 2021. Na parada, todos os veículos que passavam tinham as janelas vedadas: ar-condicionado. Lá dentro, rostos tristes, de máscara, ocupavam os assentos ou iam em pé.
Os ônibus não estão tão cheios, pensei, afinal é sábado. Mas nos dias de semana, os ônibus continuam tão lotados quanto antes da pandemia, e ainda assim seus passageiros são obrigados a respirar o mesmo ar viciado, substituído (?) apenas por um parco sistema de refrigeração – cujo nome já diz: serve para resfriar, muito mais que para ventilar.
Existe algum estudo que mostre a eficácia do ar-condicionado dos ônibus em fazer circular o ar, prevenindo o contágio de uma doença com alta letalidade como a Covid? Ou estamos apenas “tendo fé” na salvação por “graça divina”, como prefere a maioria dos eleitores do energúmeno que ocupa a presidência?
Quanto custaria às empresas, donas das frotas de ônibus, substituir os vidros vedados por vidros que se abrem, caso isso seja necessário para circular o ar o suficiente para reduzir o número de mortes? E qual a porcentagem desse custo em relação ao seu lucro?
Quanto vale, afinal, a vida dos passageiros de ônibus, dentro de um sistema que podemos muito bem chamar de carrocracia?
Depois de um ano e três meses de pandemia, depois de meio milhão de mortos em todo o país, ainda não vi ninguém fazer essas perguntas.
PS: acabei indo de Uber.